Ontem fiz a caminhada entre a fajã de São João e a fajã dos Bodes, na encosta Sul de S. Jorge. O dia estava perfeito para caminhar, sem muito calor mas com um sol sempre agradável.
O percurso é um daqueles trilhos turísticos classificados disponíveis em S. Jorge. Demora cerca de três horas a andar com subidas bastante acentuadas mas a paisagem é, como sempre!, deslumbrante.
Desta vez o grupo era grande. Pessoalmente prefiro 4 ou 5 pessoas porque que só assim se torna possível “sintonizarmo-nos na mesma onda”…andar, olhar à volta e por uns momentos deixar-nos levar pela imensidão dos verdes, do mar e das árvores com as suas copas moldadas pelos ventos. Também gosto de ouvir aquelas estórias de “o meu avô tinha aqui uma terra e conta que…”. Ora isto é o verdadeiro mote para desenrolar o “novelo” das histórias antigas que atravessam gerações. Eu gosto disso! Com um grupo maior e heterogéneo é mais difícil de conseguir.
No caminho encontrei um senhor que me ajudou a semana passada para o meu trabalho. Estava a “picar faias” para alimentar os animais.
Ali estava o Sr. Manuel, com os seus olhos azuis, concentrado no gesto da foice. Quando o interrompi, olhou-me e sorriu. Eu devolvi o sorriso e lancei a pergunta «lembra-se de mim?». A resposta deixou-me feliz. Ele lembrava-se. Acho que isso para mim é importante…
Enquanto explicava o que tinha feito nesse dia e o que ainda faltava fazer até semear o milho eu reparava nas suas mãos ásperas, cortadas do trabalho. Aquele corpo franzino metido numas calças remendadas lançava olhares para a encosta. Que fotografia linda!
Não demorou muito tempo a convidar-me para entrar na sua casa. Pegou no garrafão e “brindou-me” (a isto não há como escapar…só se estivermos a tomar muitos medicamentos). O resto do grupo há muito que tinha seguido. Por mim, se não fosse cá por coisas tinha era continuado ali a falar. Estas pequenas coisas enriquecem as caminhadas. Cada pedaço daquela encosta tem estórias para contar. Mas segui na caminhada. Ficou a promessa de voltar à sua casa para ver como se faz uma esteira de vimes.
A esta altura a caminhada estava a meio. O mais difícil já estava para trás. Agora era só descer até à fajã dos Bodes, o destino final, onde nos esperavam com uns frangos assados. Quando se começa a descer é possível ver as formas de São Jorge. Viam-se umas casas ao fundo, era a Ribeira Seca. A vista para o mar e para o Pico estão favorecidas. É sempre agradável ver o mar.
No caminho há umas quedas de água que “roubam” muito tempo a quem gosta de fotografias de natureza. Vale a pena.
Quem algum dia se aventurar nestas caminhadas em São Jorge, não pensem na duração do trilho, nas dores de pernas ou se o telemóvel está sem rede. O meu conselho é deixem-se ir. Façam uma pausa, olhem à volta e respirem fundo. Mais! Sempre que possível parem para falar com as pessoas. Há histórias que merecem bem o tempo de as ouvir contar. Afinal, é isso que enriquece esta paisagem.
Fotografias
Ribeira de São Tomé - S. Jorge
fotos da minha viagem de barco
Na Vila do Topo - São Jorge, Açores